sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Monólogo de uma Alma Presa

ela não sabia se chorava, ou se engolia tudo de uma vez...
ela não sabia se sonhava, ou se matava tudo, como já o fez...
ela não sabia se acreditava em esperar ou padecer...
ela simplesmente não sabia de nada,
do inconveniente, do acaso..
inalcansavelmente arraso
toda a esperança que eu semeava, agora, está a falecer...

como patógeno indigente, como levedura inconsequente
como bacteriófago intransigente, experimentar invasivamente
um tratamento elétrico, uma confusão nos meus impulsos
fechando os olhos lentamente, quem sabe nos é conveniente...
ouvir os aplausos da nossa dramaturgia trágica e falida
fechar as cortinas pela ultiva vez, nossos últimos pulsos..

rasgando a carne, implorando pelo fim,
de um começo que nunca iniciara
de uma vida que tendeu e findara
no vício desumado do humano putrefado em seu festim...
festim? celebre! pois mais uma caixa chegara...
és d'alma da sóbria bêbada de sonhos
daquela que acreditou intensamente nos seus escombros...
jamais realizados, empoeirados, na caixa do tempo esquecera...

e ela não sabia se gritava por socorro,
imploro, gemo, choro ou corro?
correr pra onde? não existe solidão
não quando se constroi um abismo de monstros e podridão.
não existe sonhos brotando deste chão
não existe luz oriunda desse clarão
cujas luzes são irradiadas de escuridão
jamais apagarão
jamais desaparecerão
eternamente no meu abismo oculto ficar-se-ão.


entao por que não deixas-me ir?
por que não deixas-me dormir?
por que não permites-me sorrir?

por que não cedes-me o direito de ruir?
só mais uma vez. nesse abismo sem ir ou vir...


deixe-me ir.
deixe-me correr.
deixe-me sorrir.
deixe-me dormir.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Poema Incompleto

E foi quando eu vi
Que de erros inatos
E de certezas, de fatos
Desperdicei a vida que não vivi

E foi quando eu percebi
Que de sentimentos ingratos
Que de sensações em colapsos
Matei toa a felicidade num gole de dor em que bebi. 

Diga-me, quem ousaria completar essa meia-história sem vida?

sábado, 11 de setembro de 2010

Dez e Trinta e Dois

Abro os olhos e desfaço-me dos sonhos
que por horas incessantes vivi na escuridão
do quarto, do pseudo-abrigo, da minha prisão
de ilusões desgastadas, ares enfadonhos

Quando vejo, encontro-me em olhos tristonhos
Espelhados numa imagem de trégua e submissão
A alma está cansada, o corpo em depressão
Da oxidação gradativa dos dias medonhos.

Mar aberto, com seus barcos de esperanças
que navegam por suas tormentuosas chamas
No dilúvio das doces e amargas lembranças

Afogo-me no teu leito, e tu ainda me chamas
Para afundar-me um pouco mais e, por fim, tuas lanças
Cravar-me-ão o peito e tirar-me-ão as restantes flamas...

sábado, 4 de setembro de 2010

(Re)encontro

Mais um dia nasce, na abóbada estrelada
Mais um dia morre, na minha triste alvorada
Mais um dia se consome, na imensidão da vida
Mais um dia se perde, na ilusão da ida sem vinda.
 
Mais uma vez, estamos perdidos, nessas ruas memoráveis...
Nos nossos corações chorosos e inconsoláveis
Na nossa distância perpétua e inexorável
Na nossa partida dolorosamente sempre recordável...

Ver-te-ei algum dia novamente?
Para poder te dar o abraço que tornou-se incoerente?
Para poder dizer tudo que ficou preso na mente?

Ver-te-ei? Ora, sente...
nesse banco que construi com os escombros da gente..
Note: a lua está chorando a chuva que banhou nosso adeus, no poente...